Postagem original apresentada em Sonke Gender Justice
Mais da metade das crianças que crescem na África do Sul o fazem sem um pai presente em casa. Uma confluência de história, pobreza e ideias prejudiciais sobre masculinidade levou a que cada vez mais homens se tornassem ausentes na vida de seus filhos. Em 2012, 48% das crianças sul-africanas tinham pais que viviam em outro lugar que não em casa, 16% tinham pais falecidos, resultando em um enorme número de 64% de crianças crescendo sem o pai em casa. Em muitos desses casos, isso significa que outros membros da família — principalmente mães ou irmãos mais velhos — são responsáveis por todo o trabalho de cuidado.
As crianças se beneficiam quando os homens estão mais envolvidos em seu trabalho de cuidado; as mulheres se beneficiam porque o trabalho é compartilhado de forma mais igualitária; mas os homens também se beneficiam. Veja um dos personagens principais do novo filme MenCare de Sonke Gender Justice (Sonke), “The Gift of Fatherhood”: Themba, um jovem que cresce em Khayelitsha, na Cidade do Cabo, África do Sul, está muito envolvido no cuidado e educação de suas duas filhas, e ele as descreve como a “luz em sua vida”.
A maioria dos moradores de Khayelitsha tem vidas difíceis – a pobreza é abundante, assim como os problemas sociais causados pela pobreza. Vários fatores, incluindo trabalho migrante, legados do Apartheid e alguns costumes locais alimentam estruturas familiares onde os pais geralmente não estão em casa. O irmão de Themba, Andrew, como muitos jovens na África do Sul, enfrenta vários obstáculos para ser um pai ativo. Andrew trabalha como segurança em um bairro com uma das maiores taxas de homicídio do mundo. Enquanto faz o possível para não se juntar ao número crescente de pais falecidos, seu trabalho também o mantém longe de casa por longos turnos. Ele sente, no entanto, que sua responsabilidade de prover financeiramente é realmente importante para sua parceira Lisa e para o bebê que eles estão esperando. Sua atitude não é compartilhada pela maioria de seus amigos, muitos dos quais preferem passar seu tempo livre em tavernas.
Themba inspirou Andrew a querer ser um pai envolvido, não apenas com dinheiro, mas com seu tempo. Ambos os irmãos se envolveram em um programa administrado pela Sonke Gender Justice na África do Sul: MenCare. Por meio do MenCare, eles foram levados a um workshop sobre paternidade para envolvê-los em conversas e aprendizados sobre paternidade. Eles podem se juntar a outros homens neste grupo de pais para falar sobre os desafios, oportunidades e também a falta de paternidade em suas vidas.
Os dados são escassos sobre o envolvimento dos homens sul-africanos na saúde materna e infantil como um preditor de longo prazo de seu envolvimento em suas famílias. As evidências de outros lugares (principalmente Suécia e Noruega) são, no entanto, encorajadoras e apoiam a ideia intuitiva de que uma conexão emocional durante a infância levaria ao envolvimento de longo prazo no cuidado. No mínimo, está claro que o envolvimento precoce diminui o fardo do cuidado sobre as novas mães e, portanto, contribui para a igualdade de gênero. Medidas políticas como licença parental que inclui os pais também ajudam na igualdade de gênero.
O ativismo pelos direitos dos pais frequentemente distorceu a perspectiva do envolvimento dos pais como um direito exclusivo do pai. Infelizmente, isso desviou a atenção da oportunidade que a paternidade envolvida apresenta para melhorar a igualdade de gênero entre os pais e para satisfazer o direito da criança de ser criada adequadamente pelos pais.
No filme da MenCare “The Gift of Fatherhood”, a jornada que os irmãos Themba e Andrew enfrentam é lindamente narrada e mostra que, embora às vezes seja difícil de alcançar, a paternidade é um presente para todos na família.
Por Wessel van den Berg – Sonke Gender Justice Children Rights and Positive Parenting Portfolio Manager e MenCare Global Co-Coordenador
Editado por Czerina Patel